sexta-feira, 28 de março de 2014

Libras, para que te quero?



Além de inúmeras disciplinas específicas de área a serem cursadas, muitos alunos dos cursos de graduação se deparam com a obrigatoriedade de aprender a língua brasileira de sinais, quando então se perguntam: por que devo aprender LIBRAS?

A obrigatoriedade da disciplina de LIBRAS ocorreu com o decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, após o reconhecimento da LIBRAS como uma das línguas oficiais no país, através da Lei 10.436 de 24 de abril de 2002. Segundo o decreto:

Art. 3o  A LIBRAS deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

       § 1o  Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério.

       § 2o  A LIBRAS constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. (BRASIL, 2005).
Ter a disciplina de LIBRAS nas universidades brasileiras é uma vitória para a comunidade surda, após décadas lutando pela valorização e reconhecimento da língua de sinais. Ter a língua de sinais no currículo da universidade gera uma mudança social não somente pela sua presença, mas também pela aceitação e compreensão por parte dos alunos. É o caso de alunos que já trabalham como professores ou que já tiveram, ou têm, a experiência em sala de aula com um aluno surdo. Este graduando terá uma melhor compreensão da importância da LIBRAS do que o aluno que nunca teve contato anterior com o surdo. Além, é claro, da valorização da língua de sinais como primeira língua da comunidade surda brasileira, há outro motivo para essa disciplina ser obrigatória: a inclusão.

A inclusão proposta pelo MEC gera a necessidade de que todo e qualquer aluno esteja na sala de aula. Teoricamente é possível, mas a realidade é diferente visto que a escola e os docentes não estão preparados para isso, seja o aluno em questão surdo, cego, autista, ou qualquer outra possibilidade. Vale à pena incluir dessa forma? Somente colocar um aluno em sala de aula  não quer dizer incluir. Incluir é mais do que integrar um aluno em sala de aula; é favorecer suas habilidades, possibilitar seu desenvolvimento psico-socioeducacional, é reconhecer, e eliminar, os pré-conceitos e preconceitos em relação ao aluno e a todo o contexto no qual ele se insere.

Portanto, não basta incluir um aluno surdo sem que o professor saiba no mínimo o básico da LIBRAS, sem que a escola tenha intérprete de língua de sinais; sem que os professores compreendam quem é o aluno surdo, desenvolvam atividades para esse aluno e, imprescindivelmente, sem que haja reconhecimento de que a primeira língua do surdo é a LIBRAS.

A língua brasileira de sinais é uma língua com modalidade visuoespacial, pois a informação é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos juntamente com o rosto, através de expressões faciais e movimentos do corpo, produzindo com essas expressões e movimentos as expressões facio-corporais. A língua de sinais é uma língua completa, com estrutura independente da língua portuguesa. Por ser visuoespacial, muitos alunos se sentem desconfortáveis e/ou apresentam dificuldades por não serem acostumados a sinalizar. Afinal, os ouvintes possuem o canal oral-auditivo para a comunicação, diferentemente dos surdos.

E volta-se à pergunta: por que aprender LIBRAS? Porque se deve pensar no que foi dito acima; na possibilidade de, enquanto professor, ter alunos surdos em sala de aula, haja vista a inclusão proposta pelo MEC. Aprender língua de sinais é uma forma de perceber como o surdo se comunica, interage, vive, relaciona; como ele participa ou não da sociedade, observando o quanto é necessário reconhecer que a língua de sinais é uma língua de extrema importância ao surdo e que sem ela não há meios socioeducativos. Além disso, a LIBRAS é a língua do surdo; não há como impor a língua portuguesa. Essa afirmação é uma das respostas para a pergunta-chave feita aqui. No entanto, é preciso lembrar que a língua portuguesa deve ser aprendida pelo surdo em sua modalidade escrita.

Sendo assim, a língua de sinais não deve ser vista apenas como uma disciplina obrigatória em um curso de graduação; ela deve ser vista como parte da formação do futuro professor e como uma língua presente e participante na escola.
Fonte:http://www.junipampa.net/2012/11/por-que-aprender-libras.html



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